quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Viajem sem volta Marcada



A viagem até ao aeroporto foi feita num silêncio ensurdecedor. Ema encostou a cabeça ao vidro da janela, pensativa e angustiada. Ela sabia que não era apenas uma simples viagem de trabalho de Afonso. Ema estava cansada com a rotina de uma relação onde a ausência não era exclusiva apenas da hora da partida. Desejou por momentos que a vida voltasse para o passado e que ela e Afonso voltassem a sorrir apenas de olharem um para o outro. Afinal, ainda havia uma réstia de esperança, assim, ambos quisessem. Em muitos anos de relação entre os dois nunca houvera espaço para os filhos. No inicio de tudo, ambos estiveram de acordo na opção de não haver filhos. No presente Ema por instantes lamentou que não existisse ninguém a quem dizer: apesar das circunstancias da vida,  valeu a pena, por ti (filho). Mas, não, não havia ninguém para escutar os desabafos. Os filhos foram preteridos por uma entrega total ao trabalho e às carreiras de cada um. Afonso parou o automóvel no estacionamento do aeroporto. Em silêncio saíram do automóvel. Afonso recolheu a bagagem e Ema acompanhou-o até ao balcão para este realizar o check-in. A agitação do aeroporto contrastava com o silêncio entre os dois. No rosto de Afonso era visível a vontade de partir. Na hora da despedida cordialmente Afonso esboçou um sorriso para Ema, beijou-a e seguiu a passos largos pelo corredor que o havia de levar ao avião sem nunca olhar para trás. Ema, viu-o partir, sentou-se num banco e deixou sair todas as lágrimas que continha nos olhos. Naquele momento Ema lamentou os últimos anos da sua vida onde os sonhos a dois haviam sido boicotados. Nos últimos anos,  Ema povoava lugares imaginários onde se recolhia nos momentos deescutar uma palavra amiga ou receber um incentivo para ultrapassar as vicissitudes da vida. Ema fez um derradeiro esforço na tentativa de recordar os anos áureos onde um simples olhar valia por muitas palavras. Não tenham dúvidas que houve tempos em que Ema e Afonso se amaram... infelizmente, para Ema, recordar, esses tempos, há muito recalcados na mente, não lhe permitem no presente desanuviar o espírito, por conseguinte, há memórias que devem permanecer onde estão arrumadas. O avião levantou voo e Afonso partiu de viagem e da vida de Ema para sempre...

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