sábado, 13 de agosto de 2011

Ao cair a tarde



Mais um dia está a chegar ao fim e a tarde vai desaparecendo como se estivesse farta de tanto tempo por aqui ter estado. O Sol parece que desmaia na longitude do meu olhar e a brisa suave e fresca transforma-se num vento desagradável e frio, parecendo chegar do Pólo Norte. Lá longe no mar, o sol ainda brilha numa imensidão de cores brilhantes e as ondas contam segredos daqueles que mais ninguém vai mesmo saber. Ainda me passa pela cabeça um sonho, vindo do silêncio que agride, mas só me sinto mais ardente e carente porque te sinto em mim.

Sinto a flor que eras a desabrochar em mim, irrompendo do meu peito marcado pela saudade, sinto a alma cair em si tentando fugir ao momento, mas recordo a pedra em que se transformaste o meu coração mesmo estando num corpo vivo e reparo que ainda sou um corpo que reclama por vida, sou uma boca ávida de sede e ardente, como se a febre do amor me quisesse invadir e deixo cair uma lágrima oculta, demasiado escondida de outros olhos.

Sou uma primavera que me exigem, num verão que não quer chegar, antecipando um Outono ainda longe, esperando o Inverno gelado que há-de vir e remeter o meu coração para o frio gelado do outro lado da vida. Cresço em teus olhos brilhantes e sedutores, tenho o gosto das amoras silvestres e antecipo o adormecer sonâmbulo apertando-te nos meus braços, brincando na tua boca como senão te quisesse deixar fugir.

Sou o resto de todas as estações, porque em todas elas vivo e me reencontro em ti. Sou o pensamento sem nexo e absorto caminho ao encontro das estrelas que brilham lá ao longe e procuro todas as outras que não vemos o brilho a olho nu. Sou a partida e o regresso deste vício maldito de reencontrar as palavras. Sou a febre ardente, que a tua saudade me provoca e doente te procuro nesta imensidão de massa de ar e ao fim de cada tarde aqui regresso, ao teclado deste computador que me deseja e aceita sem resmungar.

A sonhar sou a onda furiosa daquele mar imenso que nos mete medo, mas que te despe e te possui. Sou a abelha que verte o mel no entreabrir da tua boca sedenta que me deseja, sou a raiva do ciúme doentio que magoa e te fere tal espada afiada. Sou também o sal que sai dos poros da tua pele e que se cola na minha língua, sou o segredo das marés que ninguém conhece mas que todos explicam e acima de tudo sou teu e trago-te no meu peito, mas não digas a ninguém. Sou o teu enlevo, o teu afago, o teu amor e sinto

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